Tecnologia e como ela pode nos ajudar

1 de maio de 2018 - Leave a Response

 

Depois de muito tempo afastado daqui, mas não dos treinos ou do trabalho de treinador, resolvi voltar a escrever. Talvez um ou dois textos por mês. Talvez uma criação minha, baseada na leitura de artigos e na aprendizagem constante, talvez uma adaptação de outros sites que são referência em multi-esporte, como é o caso do texto abaixo, adaptado do meu xará Daniel Matheny e publicado no site TrainingPeaks, com pitacos meus.

Vamos falar de tecnologia e suas possibilidades!

No início deste ano, tivemos as Olimpíadas de Inverno e um dado mencionado na transmissão da tv me chamou muito a atenção.

Foi dito que a maior medalhista da história dos jogos Olímpicos de inverno a norueguesa Marit Bjoergen, com 37 anos de idade, tinha um arquivo de 8000, isso mesmo que vocês leram, oito mil, sessões de treino e que através da análise dos dados fornecidos adaptou seu treinamento para manter-se em atividade no alto nível, por tanto tempo, já que sua primeira medalha olímpica veio em Salt Lake City em 2002 e de lá pra cá foram ganhas medalhas em todos os jogos até este último quando resolveu anunciar sua aposentadoria.

Mas como é possível arquivar e analisar dados de 8000 sessões de treinos?? Como estes dados podem influenciar a montagem do seu programa de treino? Como devemos encarar essa interferência tecnológica e de que maneira podemos utilizá-la em nosso favor?

Além de dados como frequência cardíaca, velocidade, temperatura, potência, rpm, dados de elevação do terreno, que são fornecidos pela maioria dos computadores de ciclismo e relógios de treino, temos um dado muitas vezes negligenciado pelos atletas e treinadores: os comentários pessoais.

Entramos na porta de nossa casa ou escritório e nossos dispositivos sincronizam simultaneamente com todas as nossas plataformas sociais e de treinamento, como mágica, pelo wi-fi. Enquanto tomamos banho, elogios e comentários foram reunidos. É INCRÍVEL!

Mas vamos encarar, essa facilidade instantânea que antes era uma solução para o problema de downloads e dados fundamentais, não sendo relatados, criou outro problema. O processo é tão automatizado, que é criada uma dependência dos dados automáticos e a imagem que eles criam do exercício, tornando os atletas menos sintonizados com informações subjetivas e sem nenhum vontade para relatar o feedback pós-treino.

Uma das melhores coisas das plataformas de treinamento e das menos técnicas do processo, são os comentários pós-atividade . Claro que há toneladas de dados a serem analisados, mas o simples ato de relatar “como foi” é inestimável aos olhos, seja como treinador ou atleta. Pode parecer uma informação trivial, mas mesmo que esteja trabalhando com um técnico ou apenas praticando uma atividade física livremente, esse é um passo frequentemente negligenciado e desvalorizado de ambos os aspectos.

Quando o treinamento passou a ser acessível a todos e isso faz muito tempo, os dispositivos eram valiosos apenas para relatórios em tempo real. Seja devido a opções limitadas de download, erros no processo ou se você fosse capaz de fazê-lo do dispositivo para o desktop, as plataformas de pós-análise eram desajeitadas e limitadas.

Portanto, não fazia muito sentido gastar esse tempo!

O ponto que estou querendo chegar é que, quando os atletas não tinham a garantia de que os dados estariam lá no pós-treino, eles relatavam com um senso muito melhor de seu esforço subjetivo e outras variáveis do treinamento.

Ainda existem atletas que guardam seus diários de treino escritos à mão anotando séries, repetições, pesos, velocidade de execução dos estímulos etc. Havia notas sobre o clima, a comida que comeram, com quem andavam e como me sentiam. Mesmo reflexões simples como sobre coisas do tipo “exagerei hoje no passeio e as pernas se sentiram cansadas no trabalho”, “comi demais no fast-food essa semana ” ou“séries totalmente completas; subir de peso na próxima semana. ”

Não havia dados sobre energia ou ritmo cardíaco para se basear, então palavras e reflexões tinham que ser as referências sobre como o treino foi e como eu estava progredindo no processo.

Isso pode soar tão estranho para alguns ou você pode fazer pouco caso da ideia de ter tempo para fazer anotações de treino, do seu dia, mas fazê-las é uma forma de  relaxar e desligar seu cérebro assim como a  meditação ou a respiração, por exemplo. Dar-se uns poucos momentos para refletir sobre a sua sessão de treinamento faz com que você esteja sintonizado consigo mesmo e ajuda a desenvolver um auto-conhecimento honesto.

Programas de controle do treinamento, devem ter um  sistema de comentários antes e depois da atividade, nada muito complexo, onde você, como atleta, possa fazer anotações que acredita serem relevantes como a sua vontade pra treinar naquele dia, se dormiu muito ou pouco, se estava muito calor ou muito úmido, entre outras coisas que possa considerar. Como Einstein disse, “o gênio existe na simplicidade”.

Como treinador é importante dar a devida atenção aos comentários, já que a informação histórica é inestimável,e  é possível refletir sobre certos dias ou períodos bons e ruins e, com anotações detalhadas, ter um plano de atuação, de por que ou por que não repetir certos aspectos do treinamento ou da vida. Desenvolver atletas intuitivos que podem adaptar por si mesmos,certos aspectos do treino, ao invés de seguir cegamente um treino como um hamster na roda.

Esses comentários pós-atividade são uma maneira incrível de se refletir e/ou encorajar o atleta a entender melhor o processo e tomar decisões em tempo real com um pensamento crítico avançado.

E se usado com uma interface treinador/atleta, é criado um encadeamento de comentários ali mesmo para que tanto o técnico quanto o atleta possam fazer uma retrospectiva e trabalhar para melhorar a performance sem repetir os erros.

A tecnologia tornou o processo de criação de comentários mais fácil do que nunca, com os aplicativos para dispositivos móveis. Como muitas vezes os dados são todos sincronizados imediatamente, o atleta simplesmente precisa atualizar o treinamento do dia, buscar o local adequado e inserir comentários (talvez durante a reidratação ou na preparação da alimentação de recuperação) para que nada seja perdido, nenhuma sensação ou feedback do treino do dia.

“Ah, eu vou fazer isso depois”, você diz. Eu acho pouco provável! Você já deve ter escutado o ditado, “não deixe para depois o que você pode fazer agora”, e isso vale pra tudo, desde fazer a cama ou jogar alguma coisa fora para reduzir a desordem, bem como pros comentários do treino.

Você pode pensar que vai se lembrar dos detalhes, mas honestamente isso raramente acontece. Dias ou semanas de uploads passam e os treinos se confundem em sua mente e você esquece o “núcleo” de como você se sentiu naquele dia, se foi bom e ensolarado ou do vento que causou ritmo mais lento ou maior FC ou mesmo se você alimentou bem.

Então você pode se perguntar o que devo escrever como comentários pós-atividade? Aqui estão algumas idéias, mas de maneira alguma devem servir como uma restrição:

  • O que você comeu e bebeu antes, durante e depois do treino.
  • Qual foi a sua percepção da primeira a última repetição de um treino intervalado?
  • Como foi sua conversa interna em diferentes pontos?
  • Como era o clima (vento de na cara, mudança de temperatura, sol, chuva, etc.)?
  • Houve alguma coisa que você fez diferente que levaria a esse desempenho ou a sensação que você relatou neste dia?
  • Quaisquer agentes estressores que possam estar ocorrendo?
  • Sua motivação para começar o treino ou não.
  • Como sua energia foi quando você começou ou pós-exercício.

Talvez isso ajude a reforçar o fato de que estamos realmente em uma era de dados e conexão ilimitada na ponta dos dedos, mas que não podemos nos desconectamos das outras maneiras de controle do treinamento.

A filosofia do esporte, principalmente amador, das assessorias de treinamento, nos dias de hoje, depende fortemente da construção de relacionamentos interpessoais, definindo os “porquês” por trás de treinos e objetivos e desenvolvendo a intuição para que o atleta saiba como abordar futuras sessões de treinamento ou competições baseados em suas próprias sensações e auto-reflexão.

Continue registrando o trabalho e, se você ainda não faz ou deixou de fazer, tome este post como um incentivo a refletir sobre seus treinos, registrando os comentários pós-atividade por duas a três semanas e ver se isso faz diferença em como você aborda as sessões futuras e seu auto-conhecimento melhora. Tente ser o mais honesto possível e aposto que será difícil não crescer como atleta no processo.

 

Um abraço e até o próximo post

Flexibilidade e Alongamento:

3 de fevereiro de 2012 - Leave a Response

Alongar ou não alongar? Eis a questão.

Parece uma duvida shakespeariana, mas na verdade tem acometido a maioria dos atletas e treinadores envolvidos seja no esporte amador, seja no de elite.

Primeiro cabe uma diferenciação entre o que seria alongamento e flexibilidade. Esta é a qualidade física que permite que um determinado movimento seja realizado com a maior amplitude possível, dentro das capacidades morfológicas. Aquele por sua vez é o trabalho que permite a manutenção ou aumento dos arcos de movimento e, portanto, da flexibilidade, uma vez que atua diretamente nas estruturas moles (músculos, tendões, aponeuroses…) que podem restringir o movimento.

Aí temos outras questões envolvidas: em que momento devo alongar, antes do aquecimento, depois dele, depois do treino e de que forma devo fazer isso?

É fato que o aumento da temperatura intramuscular facilita o trabalho de alongamento o que nos dá a primeira resposta. Devemos fazer o alongamento após um breve aquecimento que possibilitará o aumento da temperatura interna e uma diminuição da viscosidade dos líquidos orgânicos e das estruturas envolvidas. Esse “breve” obviamente terá a duração necessária para que o corpo comece a suar (um sinal de que estamos aquecidos), portanto em temperaturas mais altas a duração do aquecimento será mais curta.

Sabendo que alongamento deve ser feito no pós-aquecimento, surge outra dúvida: que tipo de alongamento devo fazer?

Existem basicamente dois tipos de alongamento que são do interesse da maioria dos atletas: o alongamento passivo ou estático e o alongamento dinâmico, ativo ou balístico.

O primeiro é aquele em que uma articulação é levada até seu ângulo máximo de alongamento e esta posição é mantida por 3 a 60 segundos. Já o segundo consiste de movimentos repetidos, com uma velocidade moderada, buscando sempre aumentar a amplitude do movimento.

O alongamento estático agudo, ou seja, aquele feito imediatamente antes da atividade, tem sido relacionado a perdas na capacidade do músculo exercer força e por consequência prejudicando a velocidade.

Já o alongamento dinâmico utilizado pós um breve aquecimento e como complemento deste melhora as respostas musculares relacionadas a atividades intensas.

E depois do treino, devo alongar também? E de que maneira devo fazer?

Após o treino é consenso que o trabalho de alongamento ajuda a relaxar a musculatura laje favorece a retirada de metabólitos e mantém os arcos de movimento intactos impedindo o aparecimento de lesões, principalmente as inflamações de tendões e fascias relacionadas ao exercício realizado.

Portanto fica a dica: faça uma alongamento dinâmico como complemento do aquecimento anterior ao exercício e após, um alongamento estático das principais articulações e músculos envolvidos no mesmo, estirando e mantendo a posição por um tempo entre 30 e 60 segundos.

 

Como Corremos?

1 de julho de 2011 - Leave a Response

Anteriormente eu falei que cada vez que evoluí a tecnologia dos equipamentos, o ato de correr torna-se mais dependente destes, às vezes alterando a forma como corremos.

Mas será que necessitamos realmente disso tudo para correr ou precisamos encontrar dentro de cada um de nós aquele ancestral que corria descalço, ou de sandálias rudimentares, atrás dos animais até capturá-los?

Acredito que parte de todas as corridas que fazemos deveríamos deixar de lado todos os equipamentos e voltar ao nosso corredor primitivo.

Se lembrarmos de nossa infância, vamos recordar que quando brincávamos na rua corríamos descalços atrás da bola, das pipas, nos piques em grupo e a única forma de monitorarmos nosso desempenho, nosso cansaço era nosso “feeling” interno que nos dizia para parar ou que poderíamos resistir mais um pouco.

Esse é nosso corredor ancestral!

Mas isso influi a forma como corremos?

Certamente que sim! Principalmente quando deixamos de lado nossa percepção interna e deixamos que equipamentos eletrônicos (gps, frequecímetros) regulem nosso desempenho, às vezes contrariando nosso sentimento que nos diz que poderíamos ir um pouco mais.

E no caso dos calçados, como eles influenciam na forma como corremos?

Se recordarmos aquela corrida da nossa infância e a forma como colocávamos o pé no chão, nenhum de nós o fazia com o calcanhar primeiro. Geralmente colocávamos o terço anterior do pé e o toque com o calcanhar, quando existia era muito rápido e leve no chão, bem diferente da corrida que nos “ensinaram” posteriormente, tocando o calcanhar no chão primeiro e depois “rolando” até a ponta do pé.

Esta segunda forma que aprendemos gera, segundo pesquisas, um impacto muito maior nas articulações do que se corressemos descalços ou com calçados com pouco ou nenhum amortecimento, conforme a figura adaptada do site: http://www.barefootrunning.fas.harvard.edu

Quando abordamos o solo com o calcanhar usando tênis com amortecimento, as forças reativas do solo geram 2 picos de impacto nas articulações dos pés, joelhos e quadril conforme mostra a figura.

 

 

Já quando a corrida é feita descalço ou com pouquíssimo amortecimento, as forças reativas do solo geram apenas um pico de força contra as articulações dos tornozelos, joelhos e quadris e a abordagem é feita com o terço anterior dos pés.

O que devemos fazer então? Jogar toda a tecnologia desenvolvida durante anos no lixo e voltar à nossa infância de corridas descalços, sem relógios, frequencímetros ou GPSs?

Obviamente que não!

Porém acredito que devemos em talvez 10% a 20% dos nossos treinos semanais, deixar todos os equipamentos em casa e desenvolvermos nossa auto-percepção, para nos conhecermos cada vez melhor e consequentemente melhorarmos a forma como corremos.

Mais a frente falarei um pouco de como os tênis influenciam a maneira como corremos.

Por que Corremos??

28 de maio de 2011 - Leave a Response

O ser humano corre desde os primórdios.

Na verdade, existem artigos científicos que defendem que o homem tem sua postura bípede atual, exatamente porque corre.

Na aurora da civilização, o homem corria para fugir dos predadores e manter-se vivo.

Depois os homens começaram a correr atrás dos animais para caçá-los, primeiro sem nenhuma arma, já que lanças, arcos, flechas, começaram a aparecer muito depois. Para pegar os animais o homem corria atrás deles até que estes cansassem e caíssem mortos ou que pudessem ser abatidos de perto com uma pedra ou coisa parecida. Corriam às vezes distâncias muito maiores do que as atuais maratonas (42,195 km).

Milhares de anos se passaram e o ato de correr tornou-se uma maneira de manter a forma e previnir-se de doenças causadas pelo sedentarismo típico da sociedade atual, cada vez mais escrava da tecnologia e das facilidades proporcionadas por esta.

As pesquisas tecnológicas desenvolveram equipamentos cada vez mais modernos e específicos para a prática da corrida, mas apesar disso tudo, o ato de correr não é muito diferente daquele praticado por nossos ancestrais. Monitores cardíacos, Gps, tênis com amortecimento a ar, em gel, em espuma, roupas que não ficam encharcadas com suor, meias, cintos de hidratação, géis repositores, ou seja, todo um mercado desenvolvido para a prática da corrida.

Hoje em dia, já não corremos mais para sobreviver fugindo ou caçando animais. Hoje em dia corremos para nos mantermos saudáveis, para encontrar os amigos, para superar desafios pessoais, objetivos.

Apesar de toda velocidade que conseguimos desenvolver em carros, motos, bicicletas, os homens ainda correm e correrão sempre, pois somos os que somos porque corremos.